Sobre a Dança


 
 
Encontre seu próprio eixo. 
“A música derviche não pode ser escrita em notas. As notas não contém a alma dos derviches”.

A dança começa no movimento dos planetas no nosso sistema solar. Somos um reflexo do macrocosmo, uma centelha divina pulsante e em contínua transformação. A dança é expressada nos olhares, nos sorrisos, nos corpos, nos órgãos internos, nos músculos, na pele, no sangue, na vida.

Uma dança específica dever ser aprendida e estudada constantemente, dia após dia, tecnicamente e racionalmente. Mas só conseguirá tocar os corações quando encontrar o equilíbrio entre técnica e emoção. E não uma emoção estudada, mas a emoção do pulsar e da entrega, livre dos julgamentos, livre para se deixar fluir. É preciso encontrar o seu eixo e o seu ponto de equilíbrio, bem como os sábios dervixes se utilizam do giro no eixo, entrando num transe absoluto, no fundir-se em Deus, recebendo as bênçãos e devolvendo-as a terra, usando seus pés como centro para mais uma vez receber, girar, transcender e devolver. A transmutação pela dança, pelo giro, pelo eixo, pelo seu centro. Todo dançarino, todo bailarino e todo aquele que expressa a emoção pela dança necessita descobrir o seu centro e nele se expandir para transcender o corpo e se unir a sua força da alma.

Particularmente tenho uma total atração e empatia pelo sufismo desde muito cedo, quando ouvia histórias do sábio Guerdieff contadas pela minha mãe. E imaginava aquela dança cheia de filosofia, de saias compridas representando seu refúgio, túnicas pretas representando a passagem necessária, a eterna morte em vida, dançando para transcender, dançando para morrer nos apegos e renascer em consciência. Tentava imitá-los tombando a cabeça e olhando para o céu, e muitas vezes os giros duravam longos minutos, e sentia uma sensação de leveza quando finalizava a dança. Uma sensação de unificação. Quando ouvia Omar Faruk, aquelas músicas me levavam a lugares de sonhos, com flautas, tambores, címbalos, deserto, dança, transe. Um transe natural de cura e de transformação.  Uma forma de meditação.

“Os Derviches giram, rodando em torno do seu próprio eixo e movendo-se também em órbita. A mão direita está virada para o céu para receber o perdão e a benção de Deus, que passa através do coração e é transmitido à terra com a mão esquerda que está voltada para baixo. Enquanto que um dos pés permanece firmemente no chão, o outro o cruza e permite a propulsão giratória. O movimento de levantamento e queda do pé direito é mantido constante, através da repetição ritmada do nome de Deus: "Allah-Al-lah, Al-lah". A cerimónia pode ser analisada como um grande movimento crescente em três fases: aprendizagem e conhecimento de Deus, visionamento de Deus e união com Deus.”

Encontre seu eixo, feche os olhos e sinta seu equilíbrio vindo das solas dos pés por toda extensão do corpo. E dance a música que nesse instante toca a sua vida. A música das esferas!

Sandra Kitner